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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Dinossauro mineiro



A liberdade artística permite colocar juntos o Uberaba-titan e uma vaca zebu, sem ligar para os milhões de anos entre eles. O lugar é o mesmo, só que, no tempo dos dinossauros, a região era seca, quase desértica
Apesar de uma diferença no tempo de 65 milhões de anos, a descoberta do Uberabatitan - o maior dinossauro brasileiro e possivelmente o último do planeta - tem uma série de pontos em comum com a história do zebu no Brasil e com a origem da ExpoZebu, que se encerrará no próximo dia 10 de maio.
Na edição de julho do ano passado, a revista inglesa Palaeontology traz, num artigo de 20 páginas, assinado por um cientista brasileiro e um argentino, a informação da descoberta do Uberabatitan ribeiroi. O local da descoberta está no nome - Uberaba, Minas Gerais. Faltou falar de uma coincidência incrível: o dinossauro gigante do Brasil foi encontrado na formação geológica das terras da mesma fazenda - Fazenda Cassu - onde se fez há 102 anos, quer dizer, em 1906, a primeira exposição de zebu em nosso país, exposição essa que deu origem à famosa e importante ExpoZebu, que se realiza todo mês de maio em Uberaba.
Por volta de 1906, nosso gado era todo de origem europeia. No clima brasileiro e, mais ainda, nas pastagens nativas de má qualidade, esse gado tinha definhado a ponto de uma vaca criadeira pesar 140 quilos aos cinco anos. Hoje, com o zebu, um garrote de dois anos - como se deu com Gero, da Fazenda Nova Índia - chega, em condições especiais, a mil quilos em dois anos. A transformação do zebu no boi brasileiro - hoje, de 80% a 90% de nosso rebanho carrega sangue predominante de zebu - teve, nessa primeira exposição da Fazenda Cassu, um de seus marcos históricos mais significativos. Usando sangue de nelore, gir e guzerá, que buscava diretamente na Índia, a Fazenda Cassu queria formar uma raça de "zebu nacional" (como os americanos acabaram fazendo com o brahman) que fosse o mais pesado dos zebus. Essa raça devia chamar-se induberaba, mas, na hora do registro no Ministério da Agricultura, o nome passou para indubrasil.
A Casa-sede da fazenda Cassu mudou pouco desde a primeira mostra de zebu no Brasil, em 1906
Outra coincidência: mais de 60 anos atrás (como veremos logo adiante) foi encontrado o primeiro dinossauro de Minas (um parente do Uberabatitan, ou quem sabe ele mesmo) num desvio ferroviário na própria Fazenda Cassu. Duas coincidências, mas que não são as únicas.
O anúncio da descoberta do Uberabatitan ("titan" é uma palavra grega que significa gigante) se deu na Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro, dia 24 de Setembro de 2008. Foi notícia de destaque em todos os telejornais do dia e ganhou primeira página nos jornais impressos do dia seguinte, além de 10 mil citações na internet.
No Jornal nacional, da TV Globo, no dia do anúncio, Willian Bonner deu assim a notícia: "Uma réplica do maior dinossauro já descoberto no Brasil foi apresentada hoje no Rio". Aparecem imagens do esqueletão montado para esse acontecimento com a voz da repórter Sandra Passarinho: "Um dinossauro desse tamanho no Brasil só se via em filme. Ao vivo é outra coisa". Surge na tevê o rosto de uma jovem, possivelmente estudante, olhando o bicho e, de certa forma, confundindo as coisas: "Estou deslumbrada! Ele foi o começo de tudo, né?".
Agora a repórter Sandra está diante da câmera: "O gigante de Uberaba faz dessa cidade mineira a "capital nacional do dinossauro". Essa descoberta é resultado da maior escavação de fósseis já feita no Brasil. A reportagem segue com dimensões e características do gigantão. Para calçar sua matéria em fontes dignas de respeito, Sandra Passarinho entrevista duas pessoas: o professor Ismar de Souza Carvalho, paleontólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor brasileiro do artigo que revelou o achado do Uberabatitan - e Luiz Carlos Borges Ribeiro, este um geólogo de Uberaba cuja presença, naquele ato, é a terceira grande coincidência em volta do dinossauro gigante: Luiz Carlos cresceu na mesma casa do homem - coronel Zé Caetano - que fez sozinho (e repetiu por cinco anos seguidos), em sua Fazenda Cassu, a exposição de zebu de Uberaba, até que, em 1911, ela passou a ser feita pela prefeitura e depois (a partir de 1934) pelo que é hoje a ABCZ. Coronel Zé Caetano é seu bisavô.
fonte: editora globo

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