Inspirador de estudo pioneiro sobre extinção de dinossauros revela que trilhou caminho para descoberta quase por acaso
O paleobotânico Kirk Johnson, 49 anos, é coautor de um estudo recente sobre a tese de que dinossauros foram extintos depois que um asteroide caiu no México há 65,5 milhões de anos, espalhando destroços pelo mundo, destruindo florestas e causando tsunamis e terremotos.
Essa hipótese apareceu pela primeira vez em 1980 e teve confirmação parcial em 1990, quando pesquisadores descobriram a cratera de Chicxulub, com 192 quilômetros de extensão, no México. Mas o novo estudo, publicado na revista Science em março, é muito mais definitivo, a partir do trabalho de 41 cientistas que realizaram pesquisas em Chicxulub, em fósseis e em destroços incrustados em uma camada de solo de um dedo de espessura para apoiar a explicação sobre o asteroide.
Johnson não é um especialista em dinossauros. Seu objeto de estudo são plantas fósseis do período anterior e posterior ao choque do asteroide, particularmente aquelas encontradas nessa camada de um dedo de espessura, conhecida como Camada K-T.
Ele desenterrou fósseis em todo o mundo, incluindo o oeste dos Estados Unidos, a Mongólia, a Índia, a Amazônia, o Mar de Bering, no Alasca, e as florestas tropicais da Nova Zelândia. Johnson concedeu esta entrevista por telefone, do Museu Natural e Científico de Denver, Colorado, onde ele é curador-chefe e vice-presidente de pesquisa e coleções, sobre como ele se tornou especialista na vida de plantas de 65,5 milhões de anos.
Pergunta – Como o senhor se interessou por fósseis?
Johnson – Quando eu tinha seis anos, provavelmente, encontrei um fóssil num piquenique de família e achei a coisa mais legal do mundo. Cresci perto de Seattle, mas minha mãe era de Wyoming e meu pai da Califórnia, e fazíamos duas viagens por ano para ver meus avós. Eu sempre insistia que parássemos em diferentes pontos de nossas viagens de carro para procurar fósseis. Nunca tinha ouvido falar de geologia antes de ir para a escola secundária. Pensei: “Estive quebrando pedras por 10 anos, e há todo um campo sobre quebrar pedras! É ótimo.”.
Pergunta – O senhor alguma vez quis estudar dinossauros ou fósseis humanos antigos, ou sempre plantas?
Johnson – Gosto de tudo isso, mas estava encontrando fósseis de plantas e de caranguejos. Me dei bem nisso porque há mais fósseis de plantas no Estado de Washington do que dinossauros.
Pergunta – Como o senhor se envolveu no debate sobre o que matou os dinossauros?
Johnson – A ideia do asteroide surgiu em 1980 e ganhou impulso em 1981. Naquela época, eu estava na escola secundária e já estudando plantas fósseis do período imediatamente posterior ao asteroide. Não estava pensando sobre como um asteroide teria afetado as plantas, mas ninguém estava estudando isso. Ciência é isso: encontrar a área onde ninguém sabe a resposta. As pessoas estavam perguntando: “Quem sabe alguma coisa sobre plantas na Camada K-T”?, e eu podia pelo menos responder: “Bem, eu estou procurando plantas naquele período”. Estava no lugar certo, na hora certa, e a questão me pegou em cheio. Passei os 25 anos seguintes perguntando o que aconteceu às plantas na Camada K-T.
Pergunta – Pode-se ir ao México e ver a cratera Chicxulub?
Johnson – Ela foi preenchida. Crateras começam como um buraco profundo, que sofre erosão depois de algum tempo e deixa basicamente um buraco menos profundo. Você precisa de ferramentas sismográficas para vê-la.
Pergunta – Qual era o tamanho do asteroide?
Johnson – Tinha 9,6 quilômetros de diâmetro, o tamanho de muitas áreas urbanas. Era uma grande bola caindo a 20 quilômetros por segundo – algo como 10 a 20 vezes a velocidade de uma bala. Era realmente impressionante.
Pergunta – Seu estudo é a última palavra sobre o que matou os dinossauros?
Johnson – Em ciência, não há palavra final. Alguém poderia fazer uma descoberta amanhã pela manhã provando que estamos errados.
Pergunta – Por que foram 41 autores?
Johnson – A extinção de dinossauros reúne astronomia, asteroides, estudo de crateras, biologia dos oceanos, extinção de organismos em terra e no mar. Há muitos campos diferentes se intercomunicando para efetivamente estabelecer o que ocorreu, quando ocorreu e seu efeito sobre o planeta e os seres vivos. Eu chamo essa equipe de dream team da Camada K-T. Um dos problemas é que não conseguimos incluir um especialista em dinossauros. Foi um cochilo de nossa parte.
Pergunta – O senhor tentou reuni-los pessoalmente em algum momento?
Johnson – Não, eu cresci totalmente na era da internet. Conheço metade dos autores; a outra metade, nunca encontrei.
Pergunta – O que o senhor pensa da repercussão do estudo junto ao público?
Johnson – Fiquei fascinado ao percorrer a blogosfera e perceber quantas pessoas têm esse tipo de atitude reverente diante da ciência em geral. Fazem alguma referência ao estudo e depois falam de aquecimento global, Al Gore e Sarah Palin, que não poderiam ter uma relação mais distante entre si. Mas acontece.
Pergunta – E agora?
Johnson – Frequentemente você faz descobertas colaterais, e eu fiz várias neste projeto. Em 1994, encontramos, aqui no Colorado, um sítio fóssil mais recente que a Camada K-T, 2 milhões de anos mais recente. Era uma floresta tropical fossilizada no Colorado, que é interessante e relevante por si mesma.
por Rachel Saslow
The Washington Post
Fonte:
- Zero Hora
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