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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Beleza de 90 milhões de anos

Estudo conduzido por pesquisador da Unicamp conclui que a família das borboletas ninfalídeas, uma das mais comuns do mundo, existe desde a pré-história, tendo sobrevivido à colisão do asteroide que eliminou os dinossauros da Terra.





Insetos voadores de asas coloridas que passeiam entre flores e plantas, inspirando pesquisadores, poetas e observadores casuais. Seja na cidade ou no campo, o encontro com uma diversidade enorme de borboletas não costuma ser algo raro. O que muitos não sabem, porém, é que alguns desses delicados animais são pré-históricos. Estudo do pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) André Freitas, em parceria com um grupo internacional, concluiu que a família das ninfalídeas, uma das mais comuns do mundo, existe há pelo menos 90 milhões de anos, época em que os dinossauros ainda caminhavam na Terra.



Segundo a pesquisa, a queda do asteroide que extinguiu os grandes répteis e várias outras espécies de plantas e animais há 65 milhões de anos não foi capaz de eliminar as ninfalídeas do planeta, apesar de ter reduzido drasticamente o número de espécies da família, de 40 para 10, aproximadamente.


A queda na diversidade, no entanto, não impediu que as ninfalídeas se tornassem uma família numerosa no presente. Atualmente, são contabilizadas 12 subfamílias e quase 7 mil espécies no mundo todo, com exemplares dos mais variados tamanhos, pesos, cores e hábitos. Para chegar a esses números, a pesquisa contou com a participação de especialistas dos Estados Unidos, da Suécia e da Finlândia, além do Brasil.


O trabalho que enfatiza a evolução e a diversidade das ninfalídeas é bastante amplo e não se resume apenas ao cálculo do tempo de existência dessa família na Terra. A análise considerou 235 características morfológicas e 10 trechos de DNA. Os pesquisadores também analisaram a planta hospedeira característica para cada uma das subfamílias. A partir daí, Freitas elaborou uma espécie de árvore evolutiva das borboletas. Fósseis também foram utilizados para a descoberta da idade dos insetos. “A idade de origem da família inteira, a genealogia e os fósseis nos permitiram concluir que a diversidade de borboletas da família das ninfalídeas sofreu uma queda acentuada há 65 milhões de anos”, destaca o professor da Unicamp.


De acordo com Freitas, outras famílias de borboletas também devem ter sofrido uma redução semelhante naquele período. Numa projeção em parte irreal, mas ilustrativa, caso o asteroide não tivesse caído sobre a Terra, hoje haveria um número três vezes maior de espécies de ninfalídeas no mundo. “Como os continentes (África, América do Sul, Antártida, Austrália) ainda estavam muito próximos, acreditamos que o grupo tenha surgido em toda essa região. Atualmente, elas ocorrem no mundo inteiro, menos na Antártida, pois o continente inteiro é congelado”, afirma o cientista. Ele lembra que as ninfalídeas apresentam uma única característica em comum: o primeiro par de pernas é tão reduzido que dá a impressão de elas só possuírem quatro patas. “Em alguns lugares do planeta, inclusive, são conhecidas dessa forma”, ressalta.


Asas transparentes


Com a colaboração da pesquisadora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) Karina Silva-Brandão, Freitas está obtendo dados mais precisos a respeito de algumas espécies de ninfalídeas. Exemplo disso são as borboletas de asas transparentes, pertencentes à subfamília Ithomiinae. Num estudo publicado no ano passado, em parceria com a pesquisadora francesa Marianne Elias, à época membro da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido, os brasileiros mostraram que essas borboletas já viviam há mais de 15 milhões na região dos Andes. Naquele tempo, a região ainda não era montanhosa.


De acordo com os especialistas, à medida que o tempo foi passando, as montanhas foram se erguendo e os ambientes passaram a ficar isolados por vales e picos. “Tal situação contribuiu para a diversificação dessa subfamília”, destaca Karina. Responsável pelas análises de laboratório que permitiram o estudo das ninfalídeas, Karina destaca a importância de análises históricas, além dos fósseis e do material coletado em campo. “Ao compararmos as sequências de espécies diferentes, é possível estimar há quanto tempo, em milhões de anos, elas se separaram. Depois disso, analisamos historicamente, por meio de registros de outros pesquisadores, o que ocorreu de fato naquela data com a vegetação, a altura de montanhas que separavam as espécies, o surgimento de um rio, uma glaciação que tenha baixado a temperatura de uma região, entre outras características”, explica.


Para André Freitas, as borboletas fazem parte de mais um grupo que sofreu uma queda na diversidade há 65 milhões de anos. Porém, nada impediu que hoje esses insetos de grande importância ecológica se diversificassem pelos quatro cantos do mundo. Segundo ele, não é difícil identificar indivíduos pertencentes à família das ninfalídeas. Exemplares azuis e enormes, que costumam ser encontrados próximos à cachoeiras, por exemplo, pertencem à família. Borboletas conhecidas como monarcas, cujas asas são de cor alaranjada com listras pretas e marcas brancas, também. “No Parque da Cidade, em Brasília, é possível encontrar algumas dessas espécies”, conta o pesquisador.


Fonte:
  • Correio Braziliense

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